Na penúltima sexta-feira (20), o grupo Garotas Pelo Mundo teve uma reunião para tratar de deficiências e capacitismo. Nela, diversos temas foram abordados, como a terminologia mais adequada do assunto, capacitismo e micro capacitismo, as chamadas deficiências invisíveis e o aumento da quantidade de mecanismos que têm sido desenvolvidos graças ao avanço da tecnologia para assistir pessoas com deficiência.
Primeiramente, é importante pontuar que a utilização do termo “deficientes” para referir-se a pessoas com deficiência traz uma conotação negativa do ponto de vista gramatical, ao reduzir tudo o que a pessoa é a essa palavra, quando na realidade o fato da pessoa possuir uma deficiência é apenas uma de muitas das suas características. Devido a esse motivo, a terminologia de “pessoas com deficiência’’ torna-se mais adequada para referir-se a indivíduos com essa característica, pois deixa claro que trata-se de uma pessoa primeiro, antes de ressaltar a deficiência.
Logo, tratamos do capacitismo, que é um conjunto de práticas preconceituosas direcionadas a pessoas com deficiência, baseadas na crença de que habilidades típicas são superiores e os indivíduos supracitados precisam ser “consertados’’. Também tratamos do micro capacitismo, que é mais comum e muitas vezes não é visto como algo problemático por grande parte das pessoas. Este inclui ações que deixam de considerar as necessidades de pessoas com deficiência no dia a dia, por vezes de forma sutil. Atitudes micro capacitistas incluem escolher ambientes para eventos ou produzir conteúdos que não comportam necessidades especiais, tratar deficiências exclusivamente de forma inspiradora ou trágica, infantilizar pessoas com deficiência ou não levar em conta suas opiniões, entre outros.
Algo que também destacou-se na reunião foi a abordagem das chamadas "deficiências invisíveis”, aquelas que muitas vezes não podem ser identificadas somente através do olhar, conceito que engloba as deficiências intelectuais. Um exemplo dessa categoria que veio obteve uma representação cinematográfica capacitista recentemente é o autismo, condição de saúde caracterizada por divergências na comunicação social e comportamento. No filme Music, da produtora Sia, conta-se a história de uma menina autista de maneira altamente estereotipada, interpretada por uma atriz que não possui a condição e com cenas fortes de contenção física utilizando métodos perigosos e criticados pela comunidade autista. Além disso, as características de som e luz do filme não são receptivas a pessoas autistas, muitas vezes impedindo-as de assistir à produção. Além disso, na discussão do autismo o que chamou a atenção também foi o fato de ser muito mais difícil diagnosticar meninas com a condição, uma vez que estas têm uma habilidade maior de “disfarçar” os sintomas, o que pode estar relacionado a uma cultura de ensinar as meninas a ser mais contidas e encobrir manifestações que fujam do “normal”.
Tendo tudo isso em vista, a principal mensagem que ficou dessa reunião é que embora seja importante reconhecer que uma pessoa com deficiência por vezes possui certas necessidades especiais ou requer auxílio em determinados momentos, ela merece ser tratada com a dignidade humana que seria dada a qualquer um. Principalmente no caso de pessoas com deficiência intelectual, é muito importante ouvir o que eles têm a dizer por si mesmos, ainda que demorem um pouquinho mais para falar.
Bibliografía:
REVISTA AUTISMO. O que é autismo?. Disponível em: https://www.revistaautismo.com.br/o-que-e-autismo/ . Acesso em: 29 mar. 2021.
ROLLING STONE. What the Hell Is Going On in Sia’s ‘Music’?. Disponível em: https://www.rollingstone.com/movies/movie-features/sia-music-movie-review-controversy-1125125/ . Acesso em: 29 mar. 2021.
ótimo texto!! 😁👏🏻