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  • biancazackk

"A Redenção de Cam" - mestiçagem como caminho para o branqueamento do Brasil



"A Redenção de Cam" é uma obra feita em 1895 por Modesto Brocos, que resume muito bem como era vista a mestiçagem no Brasil. Nessa tela, é possível observar uma avó negra, uma mãe mestiça, um pai branco e um filho também branco. A avó está olhando para cima, agradecendo pelo seu neto que nasceu branco.

Ademais, outros elementos do quadro retratam o significado dessa mestiçagem. A avó está perto de uma planta, e pisando descalça em solo terril, simbolizando que os negros eram vistos como selvagens, e pouco desenvolvidos. Já o pai está na frente de uma construção, e pisa de sapato em uma rua de pedras, mostrando como os brancos eram vistos como mais civilizados e avançados. Todos esses elementos nos ajudam a entender a história racial do Brasil, e nos indicam como a mestiçagem era vista como um caminho para embranquecer a tão diversa população brasileira.


Como se sabe, o Brasil possui um passado racista, que traz consequências até hoje. O Brasil foi o país que mais importou escravos de origem africana. Por conta disso, atualmente a maioria da população brasileira é composta de pretos e pardos. Porém, ainda assim, pouco se sabe sobre a cultura africana. Os vestígios dos povos que foram escravizados foram apagados com o passar do tempo, e a população negra, que se estruturou no Brasil com bases desiguais, continua sentindo os efeitos dessa história problemática. Um exemplo é a faixa mais rica da população do Brasil, em que apenas 27% das pessoas são negras. Essas consequências que são sentidas hoje em dia costumavam ser justificadas por teorias, que se diziam científicas.


A teoria Darwinista, e os estudos de Robert Knox eram duas delas, e procuravam justificar a visão negativa que se tinha de povos negros. Knox usou o estudo de cadáveres e crânios para justificar os pensamentos já existentes de uma sociedade racista. Ele dizia que os não europeus possuíam crânios menores, então eram intelectualmente inferiores, o que era usado para justificar a escravidão, tortura, e violência contra negros. Os negros e indígenas eram vistos como não intelectuais e não civilizados. O Brasil, composto principalmente por uma mistura dessas três raças, causava preocupação na elite branca

A raça branca era idealizada como portadora de uma cultura mais elevada, e racialmente valiosa. Assim, visando uma sociedade superior e mais desenvolvida, apenas os brancos eram "dignos" de reprodução. Com a miscigenação, havia o risco de formar sociedades decadentes, que iriam disseminar culturas e comportamentos prejudiciais à evolução da nação, o que dificultou a formação da identidade nacional brasileira

Essa representação serviria como o rosto do Brasil para a comunidade internacional. Contudo, além de unificar um povo, a criação de uma só identidade para um país tão diverso poderia também propagar muitos preconceitos. O Brasil possuía um povo muito distinto, com inúmeras características regionais devido a sua longa extensão territorial. Então como construir uma identidade nacional positiva e que unificasse o país, sendo que seu povo era composto por várias raças?


A solução se deu no próprio problema: na mestiçagem.

Foi planejada, então, a miscigenação no Brasil com o intuito de embranquecer a população. O objetivo era que, após algumas gerações, os genes brancos permanecessem, e a raça negra fosse "apagada" do país. Isso ocorreu principalmente após a abolição da escravatura, com a chegada de vários europeus no Brasil, que iriam supostamente deixar o país mais civilizado. Essa ideia de branquear a população foi promovida por vários intelectuais do século XIX e XX, e está representada na obra "A redenção de Cam", que ilustra esse processo.


Por mais que hoje em dia as teorias raciais tenham sido refutadas, e a proposta de embranquecer a população tenha sido descartada, as marcas delas continuam presentes. Atualmente, não é raro se deparar com uma manchete de jornal falando sobre injúrias raciais contra jogadores de futebol, ou manifestações defendendo direitos não atendidos de pessoas negras, e nem crimes de ódio realizados contra essa parcela da população. O Brasil é um país de maioria negra, mas ainda assim muito racista. Assim, é importante manter os olhos abertos, e perceber os vestígios que a história racista do Brasil deixou. A luta contra o racismo ainda tem um longo caminho a ser percorrido, e é por meio da educação e da luta ativa contra esse sistema que seremos capazes de desmantelar a estrutura racista no Brasil.


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