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Educação Sexual: Um ato de cidadania

Texto por: Julia Wild

Conforme a educação sexual é progressivamente mais implementada nas escolas de diversos países, cada vez mais se mostra imensamente pertinente. Na Holanda, por exemplo, a educação sexual começa aos quatro anos, e apenas sete adolescentes em cada mil engravidam. Em contraste, no Brasil, onde não há leis que definam preceitos para aulas sobre sexualidade, há 60,5 grávidas entre mil adolescentes. O assunto é um grande tabu no país, porque muitos pensam ser algo obsceno, que ensina as crianças a fazerem sexo e estimula o ato. Entretanto, esse preconceito é nocivo, pois impede uma educação sexual propícia, com aulas sobre consentimento, contraceptivos e sexualidade, que podem trazer diversos benefícios.

Além disso, há outra discrepância desconcertante — a diferença na taxa de gravidez na adolescência por desigualdade social. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), meninas com menores condições socioeconômicas têm cinco vezes mais chances de engravidar do que adolescentes mais abastadas. Isso pode ser atribuído a diversos fatores, como a falta de perspectiva de futuro devido à má qualidade da educação ou até mesmo ao acesso limitado a métodos contraceptivos e ginecologistas. Ademais, mesmo com a criminalização do aborto, tal procedimento pode ser muito mais desimpedido e seguro para meninas com maiores condições econômicas.

Dessa forma, a gravidez na adolescência acaba sendo um problema maior para as meninas mais pobres. A questão ainda se agrava ao considerarmos que o abandono paterno é extremamente usual e que essas garotas tendem a abandonar os estudos para cuidarem de seus filhos sozinhas, assim dificultando a busca por um emprego bem remunerado. A falta de informação, serviços públicos de qualidade e planos de futuro facilitam outro aspecto ‒ uma maior taxa de fecundidade entre os mais pobres.

Isto posto, há uma proporcionação do agravamento de questões relacionadas à renda. O primeiro fator é que, como já mencionado, é dificílimo para meninas e mulheres que abandonaram os estudos obterem um emprego bem pago. Ainda, há o elemento de que lares com mais pessoas têm um gasto maior, então dificuldades financeiras são favorecidas com a maior natalidade. Durante a pandemia, por exemplo, as mães solteiras que trabalham informalmente foram um dos grupos mais afetados, por terem que conciliar a falta de serviços e cuidar dos filhos durante o período sem aulas presenciais.

Conjuntamente, há um grande desgaste emocional. Para as mães, é cansativo ter de criar os filhos e, ao mesmo tempo, lidar com problemas financeiros. Se são muito novas, também têm que conciliar essas questões com aquelas típicas da adolescência, como as relações sociais, insegurança sobre identidade, julgamento e estudos (se esses não forem interrompidos) e a falta de maturidade para criar uma criança. Ademais, os filhos também são afetados psicologicamente por muitas vezes crescerem em ambientes conturbados, frequentemente sem a figura paterna, além de poderem sentir-se negligenciados porque a gravidez foi indesejada.

Desse modo, a educação sexual acaba sendo uma inserção democrática, que a partir da conscientização garante direitos de reprodução para diversas mulheres, sendo apresentada como uma iniciação sustentável em relação à complexa desigualdade social presente no país. É relevante destacar que a educação sexual não é algo grosseiro e impudico, que ensina posições sexuais às crianças, e sim, ensinamentos sobre a responsabilidade de cada um sobre seu corpo, abordando assuntos importantes como aborto, gravidez, métodos contraceptivos, consentimento e orientação sexual. Em contrapartida, gravidezes indesejadas podem causar inúmeras consequências em âmbitos educacionais, emocionais, financeiros e demográficos, sendo a adequada educação sexual de extrema necessidade para a cidadania.


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