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Quem paga a conta pelo preço baixo?

Atualizado: 7 de mai. de 2021

A indústria da moda é responsável por cerca de 10% das emissões mundiais de gases-estufa, poluindo a atmosfera mais do que o uso somado de navios e aviões. Esses dados, divulgados pela Aliança das Nações Unidas para a Moda Sustentável e pelo documentário “The True Cost” (2015), escancaram apenas uma fração dos inúmeros danos ambientais provocados pela chamada “fast fashion” (moda rápida, em tradução literal). Na verdade, os prejuízos desse novo jeito de fazer moda afetam o meio ambiente e a população como um todo. Nesse sentido, este texto tem por objetivo convidar vocês, leitores, a uma reflexão sobre a mudança de nossos hábitos de consumo em um mundo globalizado, com base nas informações trazidas pelo documentário.

Com o processo de Globalização, a moda passou a ser vista como um mercado cada vez mais lucrativo. Se você conhece grandes marcas, como a Zara e a H&M, já deve ter percebido que sempre que entra em suas lojas, encontra uma coleção de roupas diferente, e elas são vendidas a um preço muito barato. Isso ocorre porque elas aderem à “fast fashion”, a qual acelerou a mudança de tendências, bem como o processo que vai da confecção ao consumo das roupas. Mas, como isso é possível? O principal fator que sustenta essa rapidez da moda é a terceirização da produção a países menos desenvolvidos. Nesses lugares, as grandes corporações encontram características que as permitem ampliar seu lucro ao máximo, mesmo que às custas do meio ambiente e da população. Os salários injustamente baixos, a desvalorização da mão-de-obra, a abundância de matéria-prima e o incentivo dos governos aos investimentos estrangeiros, com a flexibilização de leis de proteção ambiental e de direitos trabalhistas, criam uma cadeia logística que só tem a beneficiar as empresas por trás da indústria da moda.


Dentre os prejuízos que ela traz ao meio ambiente, o documentário elenca os avassaladores gastos e poluição da água, a dependência de pesticidas no cultivo de fibras naturais, e o precoce descarte das roupas, as quais permanecem por anos em aterros liberando gases poluentes. E, como esperado, há uma interseção entre os danos ambientais e sociais, ou seja, ao poluir a natureza, abreviamos igualmente nossas existências. Um exemplo citado em “The True Cost” é a região de Punjab, na Índia, onde ocorre intenso uso de agrotóxicos para otimizar a produção de algodão, o que resulta no aumento de casos de doenças congênitas, cânceres e transtornos mentais. Além disso, cita o poliéster — plástico poluente feito a partir de combustíveis fósseis — que não é biodegradável e, quando lavado, libera os chamados microplásticos nas nossas águas. Então, quando os peixes se alimentam de microplásticos e nós nos alimentamos de peixes, essas partículas se acumulam em nossos organismos, trazendo mais consequências negativas à saúde humana.

No entanto, os prejuízos sociais não são somente aqueles derivados da poluição ambiental, afinal, a indústria da moda é a que mais depende do trabalho humano: estima-se que ⅙ das pessoas no mundo esteja empregado por ela. Conforme o documentário, em Dhaka (Bangladesh), os trabalhadores que de fato produzem as roupas muitas vezes têm um salário que não passa de 10 dólares mensais. Como se não bastasse receber pouco, ocorre desses trabalhadores pagarem com a própria vida, diante das péssimas condições de trabalho que facilitam acidentes. Especificamente, 1334 vidas foram perdidas pagando a conta pelo preço baixo, e mais de 2500 pessoas ficaram feridas, no desabamento do edifício Rana Plaza em 2013, também em Bangladesh. “The True Cost” conta que o dono do edifício, que abrigava fábricas têxteis, ignorou os alertas de possíveis desabamentos e da necessidade de evacuação diante da péssima infraestrutura. Esse é mais um fato que exemplifica a sobreposição do lucro em relação à vida humana como consequência da “fast fashion”.


Muitas vezes — e especialmente quando se parte de uma posição privilegiada — deparamo-nos com uma vida “pronta”: consumimos aquilo que víamos nossos pais consumindo, e isso é o normal. Não nos damos o trabalho de questionar duas coisas: a real necessidade desse consumo, e como é produzido aquilo que consumimos. No caso da moda, não é diferente; comprar uma camiseta nova por 30 reais não nos parece estranho, mas, se o valor final da peça é esse, quanto foi pago à pessoa responsável por sua produção? Ainda assim, é importante que nós reconheçamos que temos poder sobre os rumos da indústria da moda. Se ela perpetua esse processo produtivo é porque encontra nos consumidores o aval para isso, seja por ignorância, seja por conivência. Ao tomarmos conhecimento sobre os impactos por trás da confecção de uma simples peça de roupa, tornamo-nos responsáveis por mudar essa realidade e tentar contribuir para que a moda seja cada vez mais sustentável. Roupa suficiente já existe, o que falta é planeta que baste para sustentar hábitos inconsequentes e incessantes de consumo.

Sendo assim, em nosso Instagram, @garotaspelo_mundo, publicamos projetos com os quais podemos nos engajar para frear a onda de “fast fashion”, tornando nosso consumo mais consciente, voltado à proteção ambiental e à preservação de direitos sociais. Dentre eles, citamos o Brechó Solidário dos Amigos e Protetores dos Animais de Palmitos (@brecho.apap no Instagram), um projeto que existe para combinar a moda sustentável e a promoção da causa animal. Conheça também outras iniciativas, como o aplicativo Moda Livre e a tendência de “upcycling”: a reutilização de materiais que originalmente iriam ser descartados.


Referências:


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